Doar sangue é mais do que um gesto, é um compromisso com a vida: A importância de doar sangue antes da Micareta

Por Thaynara Fiúza

Toda vez que alguém doa sangue, quatro vidas podem ser salvas. Sim, é isso mesmo: uma única doação pode beneficiar até quatro pessoas diferentes. Parece mágica, mas é pura ciência e solidariedade.

Ainda assim, o número de doadores regulares no Brasil continua insuficiente para atender à demanda dos hospitais. Para entender melhor por que doar é tão urgente e necessário, a reportagem ouviu a Dra. Marilene de Souza, biomédica da Hemoba de Feira de Santana. Ela é especialista em hematologia, análises clínicas, estética, citologia, gestão em saúde e também atua como professora de ensino superior.

O que a biomédica revelou é o tipo de informação que faz qualquer um repensar o poder de um simples gesto.
Doar sangue é um ato de amor com impacto direto na saúde pública

“A doação de sangue é um ato solidário com um impacto imenso para a saúde pública”, afirma a Dra. Marilene. “Existem várias doenças e situações em que o paciente precisa de transfusão. Se não houver bolsas disponíveis, esse tratamento simplesmente não acontece.”

Ela cita, por exemplo, pacientes com leucemia, anemias hereditárias como a falciforme, e até pessoas que passam por cirurgias ou sofreram acidentes graves. Todos dependem do sangue doado para sobreviver ou ter qualidade de vida.

“É um medicamento que não se compra em farmácia. Só pode ser obtido se alguém se dispuser a doar.”
Como funciona a doação?

Para quem nunca doou sangue, o processo pode parecer complicado. Mas, na prática, ele é simples, seguro e realizado com todo o cuidado necessário.

Tudo começa com algumas orientações básicas:
É essencial estar bem alimentado, evitando frituras ou alimentos gordurosos, que podem comprometer a qualidade do sangue e levar ao descarte da bolsa;

Estar hidratado e ter dormido bem na noite anterior (no mínimo seis horas de sono);

Levar um documento oficial com foto.

Na chegada à unidade da Hemoba, o doador passa pelas seguintes etapas:
Cadastro inicial com dados pessoais;

Triagem clínica e verificação de sinais vitais, conduzida por profissionais qualificados;

Teste de hemoglobina, que identifica se a pessoa está apta a doar no momento;

Coleta de sangue, que retira entre 410 e 470 ml, volume determinado com base no peso e estado de saúde do doador.

A bolsa coletada segue para o setor de processamento, onde passa por centrifugação e é fracionada em quatro componentes distintos:
Plasma: rico em proteínas, utilizado no tratamento de queimaduras e doenças hepáticas;

Concentrado de hemácias: indicado para casos de anemia severa e hemorragias;

Plaquetas: fundamentais para a coagulação, frequentemente usadas em pacientes oncológicos ou com imunossupressão;

Crioprecipitado: contém fatores de coagulação essenciais para o tratamento de distúrbios específicos, como hemofilia.

Cada componente pode ser destinado a um paciente diferente, o que amplia significativamente o alcance de uma única doação.
Doe hoje, salve amanhã (literalmente)
Essa parte é importante: a bolsa de sangue coletada não é liberada imediatamente. Ela precisa passar por análises que duram de 48 a 72 horas, o que significa que doar com antecedência é essencial, especialmente antes de feriados e grandes festas como a Micareta de Feira de Santana.

“As campanhas em períodos festivos são cruciais. Precisamos garantir que o sangue doado hoje esteja pronto para uso no auge das festas, quando a demanda pode aumentar por causa de acidentes ou cirurgias”, alerta a Dra. Marilene.

Quem pode e quem não pode doar?
Há muitos mitos que ainda afastam possíveis doadores. A Dra. Marilene fez questão de desmistificar alguns dos principais:
“Tenho tatuagem, não posso doar” :Pode sim, só precisa esperar seis meses após o procedimento.

“Posso pegar alguma doença durante a doação” : Não! Todos os materiais são 100% descartáveis e o ambiente é altamente controlado.

“Sou hipertenso/diabético” : Pode doar, se a condição estiver controlada e dependendo do medicamento.

“Tenho herpes” :Pode doar, desde que não esteja em fase ativa da doença.

Agora, quem não pode doar:
Pessoas com doenças transmissíveis pelo sangue (HIV, hepatites B e C, sífilis, malária, HTLV, doença de Chagas);

Gestantes;

Diabéticos que usam insulina;

Hipertensos sem controle da pressão;

Pessoas que passaram por cirurgia recente (dependendo do tipo, há um tempo de espera determinado).
Onde doar?

Se você está em Feira de Santana, a unidade da Hemoba fica na Avenida Presidente Dutra, esquina com a Maria Quitéria. No período da Micareta, o atendimento vai até o dia 30 de abril às 16h e retorna no dia 6 de maio.
Fora de Feira? Procure a unidade da Hemoba ou banco de sangue mais próximo da sua cidade.

Foto- Marcelo Camargo/Agência Brasil